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LUTO! Sobre o olhar psicanalista.

LUTO! Sobre o olhar psicanalista.

Para a psicanálise o luto é percebido como um fenômeno a ser investigado, que traz em si outras peculiaridades.

Primeiramente, como propõem Kováscs (2007), ampliaremos a ideia de luto como uma ação multidimensional em reação a uma perda, seja esta simbólica ou concreta, legitimada ou não pela sociedade em que o individuo está inserido. Essa concepção implica numa condição dinâmica, de vulnerabilidade do sujeito, que vai além da natureza do que se perde, solicitando-nos a busca por compreender como e em que contexto ocorre a perda, as condições prévias que antecedem essa perda e as possibilidades adaptativas após essa. O luto, seja ele simbólico ou concreto, afeta o sujeito de forma integral, sua elaboração estará amparado aos fatores internos e externos do sujeito, na interação desses dois fatores.

Pode-se supor que a elaboração do processo de enfrentamento da perda do objeto desejado e da reorganização do enlutado, dependem de certa forma da lógica entre dois fatores:

  1. Primeiro: como esse sujeito poderá reagir, ou seja, intensificar ou inibir sua manifestação de sentimentos (raiva, tristeza, alívio, culpa, medo, saudade, etc…) por influência cultural, socioeconômica, e as condições do suporte social a que esse sujeito está inserido;
  2. Segundo: o repertório interno desse sujeito, ou seja, suas crenças, suas vivências e experiências anteriores, contextos relacionados à circunstância da perda, às possíveis perdas secundárias ou correlacionadas.

No texto Luto e Melancolia (1915), Freud analisa o estado de luto como uma reação normal a qual o sujeito encontrou para lidar com as situações de perdas, distinto da melancolia que era analisada por ele como uma atitude patológica.

No estado de luto o ego está preservado, como disse Freud: “A perturbação da auto-estima está ausente no luto” (Freud, 1915), fora isso as demais características são as mesmas apresentadas no estado melancólico. No luto o que perde o sentido e o significado é o mundo externo, logo o estado do sujeito não é tido como patológico, já na melancolia é o próprio ego do sujeito, seu mundo interno que está desprovido.

Seguindo esta linha de raciocínio poderíamos dizer que o estado de luto é uma reação à perda do objeto amado, podendo desencadear uma série de sintomas, dentre eles a perda da capacidade de amar, considerada como uma reserva da libido, por estar unida à situação da perda. A comprovação de que a perda do objeto amado de fato sucedeu, e que o sujeito tem que viver sem esse, sendo solicitado para a atual realidade.

Nesse momento espera-se a elaboração do sujeito diante da perda do objeto de amor, ou seja, a energia psíquica vai se desligando do objeto perdido, num processo dolorido, muitas vezes podendo ser longo, pois remete o sujeito aos sentimentos de abandono, aniquilação, dentre outros.

Conforme o sujeito for elaborando, à medida que esse vai sentindo o alivio de seus sintomas, o enlutado, pouco a pouco, retoma ao senso de controle de suas emoções, a energia psíquica vai se desprendendo do objeto perdido e vai se acoplando a novos objetos.

Essa elaboração depende dos recursos internos e externos que o sujeito tem disponíveis para enfrentar sua dor.

A possibilidade da utilização das abstrações e simbolizações do sujeito permite que ele se movimente por um amplo território de idéias e emoções, favorecendo-a a ampliar os elementos que compõem o seu pensar, sua capacidade de ir além, de superar determinados limites, de empregar sua consciência reflexiva, para pensar os demais objetos (pessoas e coisas) e a si mesmo. No entanto confirma que a dor do luto pela perda do objeto de amor, seja superada depois de certo tempo.

“Contudo, o fato é que, quando o trabalho do luto se conclui, o ego fica outra vez livre e desinibido”. (FREUD, 1915) Para isto se faz necessário que o ego renuncie seu objeto de amor, ligue-se a outros objetos, sabendo da condição da transitoriedade de tudo que existe.

Desejo que possamos superar a ilusão de sustentação, em tentar controlar o tempo e seus objetos, a idealização do perfeito, o desejo do eterno, do permanente, a angústia da saudade e da finitude.

 

Lucimara Cadorini

 

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