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O Homem sem Cheiro

O Homem sem Cheiro

Síntese: O perfume- A historia de um assassino. (livro: Patrick Suskind) (filme: Tom Tykwer).

O homem sem cheiro; uma analogia com um personagem da literatura contemporânea a fim de compreendermos algumas das muitas contribuições de Winnicott. Debruçando sobre a obra de Winnicott para apresentar algumas de suas ideias quando ocorrem serias perturbações que provocam distorções de personalidade e graves patologias: falso self, os esquizoides, e os distúrbios de caráter.

Trata-se de um homem que, por ter sido um bebê sem mãe não conseguiu desenvolver uma identidade própria, particular, e era, assim, uma pessoa sem cheiro. Nascido de uma vendedora de peixe em um ambiente mal-cheiroso poderia ter tido o mesmo destino dos quatro irmãos que o precederam e, como um excremento ser despejado no lixo. Mas ele escapa, pois se põe a chorar, sendo encontrado e assim denunciando o delito da mãe com seu choro, a mãe então é presa e decapitada.

Segundo Winnicott, Com o cuidado da mãe o bebê é capaz de ter uma existência pessoal, uma individualidade. Entretanto, se o cuidado materno não é suficientemente bom, o bebê não vem a existir. No caso do personagem faltou tudo, a mãe que o cuidasse ou e o pai que o salvasse. Faltou a mãe zelosa, preocupada e atenta. Uma gestação afetiva, através do processo de identificação primaria em que a mãe é capaz de reconhecer os estados afetivos de seu bebê e descobrir sua singularidade, seu self verdadeiro que aparece em características como: suas expressões faciais, seus gestos e trejeitos, seu choro, ou diríamos no caso do personagem o seu cheiro.

Winnicott refere-se ao papel do espelho da mãe: ao descobrir a singularidade de seu bebê ela pode refletir aquilo que ele é. Mas, entretanto há bebês que olham o rosto da mãe e não se vêem, ao invés de o rosto da mãe refletir o bebê reflete a rigidez de suas próprias defesas. Para preservar sua maneira própria de ser, a sua individualidade, o bebê precisa ser reconhecido e respeitado no seu ritmo natural.

Apesar da agressividade do ambiente o personagem resistiu, a única condição que permitisse a existência foi se retraindo e tornando-o submisso e isolado, precisando do mínimo de condições para sobreviver, sendo resistente e autossuficiente, aprendendo a viver sem o calor humano, dedicação e delicadeza. Porem, era a única forma de não perecer, pois se tudo desejasse provavelmente não teria sobrevivido. Como proteção ele aprende a dissimular ao lidar com o mundo, desenvolvendo uma personalidade falsa, um falso self. Com a aparência submissa, humilde e trabalhador. Conclui o autor: Quem como ele, tinha sobrevivido ao próprio nascimento no lixo, não se deixaria expulsar tão facilmente do mundo.

A essência do Self. No desenrolar do filme há um momento em que o personagem consegue expor sua verdadeira essência, o seu Self verdadeiro, quando aceita trabalhar para um importante perfumista, que ao perceber o seu talento o contrata e o explora porem ele aceita toda a falsidade e hipocrisia do perfumista, pois estava diante da primeira oportunidade de se expressar em sua capacidade criadora, que segundo Winnicott são situações em que o falso self permite ao verdadeiro self a possibilidade de ter uma existência normal. Assim o personagem se revela em sua espontaneidade, com liberdade.

Mas ele tem a necessidade de ser alguém, de deixar de ser insignificante (sem cheiro) e é motivado pela idealização em ter um cheiro sobre-humano, angelical para que todos se encantem por ele e o ame mais que tudo.

Poderíamos pensar que esta idealização estaria alimentada pelo falso self, na busca em ter o que lhe foi negado na infância, à devoção e entrega característica da condição materna primaria.

Sua aspiração se realiza cria o perfume mágico, com a fragrância extraída de pessoas que inspiram amor, e assim ele próprio com apenas uma gota viu-se amado, desejado. Mas tal estratégia foi inútil, pois não supriu seu sentimento de vazio. Ao se dar conta de que os outros só sentem o efeito do perfume, mas não sabem como ele é feito, assim ele não se sente reconhecido em seu talento, no que ele realmente é.

O suicídio. Então o personagem já não quer mais viver, se não há mais esperanças de que o self verdadeiro possa existir, segundo Winnicott, passa e ser tarefa do falso self organizar o suicídio. E é o que o personagem o faz, retorna ao lugar onde nasceu, um ambiente mal- cheiroso com ladrões, assassinos e desesperados, despeja sobre seu corpo todo o perfume e aparece então ao grupo como um anjo de imensa beleza, atraídos todos caem sobre ele e o devoram. Os canibais se sentem leves e felizes. Conclui o autor: “estavam orgulhosos, pela primeira vez haviam feito algo por amor”.

Assim como seus companheiros ele (personagem) ao assassinar as mulheres para confeccionar seu perfume também tinha um amor primitivo, com voracidade e excitação, sem culpa ou responsabilidade pelos atos cometidos pertinentes a sua patologia. Ele dizia: “precisava delas”, não pela posse, mas para o sossego de seu coração, para poder viver.

O objetivo do bebê segundo Winnicott é a satisfação, a paz do corpo e do espírito.

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