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Transtorno Obsessivo Compulsivo (Toc)

Transtorno Obsessivo Compulsivo (Toc)

Viver na angústia da ilusão em poder controlar o tempo, em poder controlar o que está por vir, se é que… virá.

 

Uma permanência de dúvida(s) constante, a impressão de catástrofe iminente, medos das próprias atitudes são sentimentos atuais de nossa sociedade, são sentimentos que desencadeiam rituais (“proteção”, “defesa”, “antecipação”) são sentimentos dos sujeitos que sofrem do transtorno obsessivo compulsivo.

Assim como na fobia o toc tem como seu pano de fundo a angústia. Se na fobia a angústia se converte, projeta-se a um perigo externo, formando um sintoma fóbico destinado a evitação desse objeto externo fobígeno, no transtorno obsessivo compulsivo a execução de rituais, de repertório e todo o cerimonial são formados a fim de impedir o contato com a angústia, dissimulando-a por traz dos sintomas. (BERGERET, 2006).

O sujeito despende seu tempo a cumprir todo um repertório de rituais, que se repete na tentativa de controlar a angústia iminente, causando danos à transitoriedade da consciência devido à necessidade obrigatória de repetição.

O medo do futuro, a dúvida constante paralisa o sujeito obsessivo e resulta num presente delirante, que tem a necessidade de confirmar de repetir. (CHACHAMOVICH & FETTER, 2005)

“A criação da incerteza é um dos métodos utilizados pela neurose a fim de atrair o paciente para fora da realidade e isolá-lo do mundo”. (FREUD, 1996g, p. 201).

De acordo com Freud, os pensamentos do obsessivo de incerteza e de dúvida têm como tema questões pertinentes vinculadas à duração da vida, a vida depois da morte e a incerteza da memória, questões essas que, de modo geral, toda a humanidade está incerta, potencializando assim a onipotência que ele aplicará a seus pensamentos, sentimentos e desejos, auxiliando na formação e duração dos sintomas.

“O paciente obsessivo-compulsivo consulta o relógio mais do que seus sentimentos para decidir o que fará a seguir”. (MACKINNON, 2008, p. 112). Segundo o autor, são indivíduos que utilizam o intelectual para evitar a emoção, como se fosse possível sentir com a mente, na tentativa de racionalizar os conflitos que geram emoções, os reflete na incerteza racional. Em virtude desse movimento psíquico, acabam por produzir um isolamento emocional, tornando-se sujeitos rígidos e inflexíveis emocionalmente.

Portanto foi possível verificar que essa tentativa de racionalização, de tentar conter e controlar as emoções, está de certa forma relacionada às primeiras experiências do individuo em suas relações com os objetos de amor.

O primeiro conflito está ligado ao sentimento de amor e ódio pelo mesmo objeto. “Sabemos que o amor incipiente com freqüência é percebido com o próprio ódio, e que o amor, se lhe nega satisfação, pode com facilidade, ser parcialmente convertido em ódio” (FREUD, 1996g, p. 206). Outro fenômeno é a vacilação normal diante do questionamento da escolha do objeto de amor: “De quem você gosta mais, do papai ou da mamãe” (FREUD, 1996g, p. 206).

Ainda em Freud, o obsessivo toca no ponto frágil da segurança, de nossa memória, de nossas escolhas, até as que já haviam sido escolhidas num passado remoto, revelando-nos a duvida neurótica, ou seja, se posso duvidar das minhas próprias escolhas, logo posso duvidar de tudo, não confio em nada, em ninguém.

Diante dessas reflexões poderíamos conjeturar que o obsessivo cria um cenário sistemático de repetições por receio de se perder/entregar no mundo, evitando assim ser ele o objeto do mundo, e tornando-se o que administra o mundo e seus objetos. Nesse sentido, a constatação de que a vida é transitória, converte em ameaçadora, pois o obsessivo tem que verificar constantemente seu lugar no mundo, assim o tempo presente se perde, fixando-se no tempo futuro, que está sempre solicitando modificações que para ele é visto como um tempo perigoso.

Com a possibilidade da realidade transitória, na medida em que o sujeito for trabalhando seus conflitos e resignificando suas escolhas e melhorando com isso seus sintomas, torna sua realidade mais satisfatória, o desejo inconsciente e representado de maneira mais saudável e integrado.

Portanto, a transitoriedade pode ser uma aliada do sujeito desejante, um facilitador para que o sujeito escolha novos objetos, usufrua da experiência transitória entre ele e o mundo, através do reconhecimento de si, de seus desejos e afetos, e faça o reconhecimento do mundo, do outro, perceba que ao utilizar essa realidade transitória como pano de fundo uma disposição de resignificação e renovação constante, disponível diariamente.

Lucimara Cadorini

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